segunda-feira, 21 de março de 2011

Lições de vida e de vendas...

Caros leitores,

Ontem de manhã, tomei coragem e sai à procura de um comércio de pisos para enfim terminar a minha longa reforma residencial. Andei para cima e para baixo até encontrar um varejista de porte médio num bairro afastado do centro de Campinas, oferecendo bons descontos para pagamentos à vista. Após rodar muito, já até desaminado numa quarta-feira de cinzas, estacionei o carro.

Logo na fachada do comércio, detectei alguns pontos a melhorar que me fizeram refletir, mas como eu já estava cansado de tanto procurar, respirei fundo e continuei a minha árdua missão. Andei compassadamente até o fundo do comércio e logo fui abordado por um vendedor.

Ele era franzino, vestido com um blazer preto, sapatos bem engraxados e de conversa fácil. Apresentou-se sem delonga e com sorriso no rosto. Apertei-lhe a mão e logo fui dizendo o motivo da minha visita a sua loja. Imediatamente ele sugeriu-me algumas marcas e também algumas combinações de cores e estilos. Foram mais ou menos duas horas de vai e vem na loja até realmente encontrarmos os pisos e os revestimentos ideais.

O “pequeno vendedor”; saliento: em estatura, em nenhum momento reclamou dessa demora. Ofereceu-me sim água e café, enquanto pegava os códigos dos produtos para lançá-los no orçamento. Foi aí que levei um grande susto, ao saber que os preços anunciados não contemplavam o frete. E nem a opção de contratá-lo posteriormente pelo próprio comércio.

Fiquei visivelmente decepcionado ao saber que eu mesmo teria de retirar os produtos da loja. Como eu faria isso? Criou-se aí uma grande objeção para a venda, pois eram mais de 2 mil quilos de mercadorias. De bate e pronto, desisti da compra e fui sincero ao apresentar os meus motivos. Contudo, mais do que depressa, o vendedor puxou debaixo de sua mesa uma lista com vários contatos de pequenos transportadores. Disse-me que eu mesmo teria de ligar para os prestadores e fechar o  serviço. Seriam essas as “ordens da casa”.

Com isso, tive certeza que eu havia perdido três horas do meu valioso feriado. E se eu me conheço bem, a minha própria fisionomia denotou claramente essa insatisfação. Diante desses indícios, o vendedor mais do que depressa pegou o telefone e ligou um a um, até encontrar um transportador confiável e disponível em plena quarta-feira de cinzas.

Foram aproximadamente 50 minutos de negociações para encontrar um profissional com essas características. Fato este que excedeu às minhas expectativas e culminou no fechamento do negócio. Disponibilidade, iniciativa, empatia, apresentação pessoal e soluções que vieram a resolver os meus problemas foram os reais motivos que me fizeram “bater o martelo”.

Méritos exclusivos para esse colaborador que, confesso, possui um perfil que em anos de consultoria, detectei em poucos profisionais do varejo. Um misto de entusiasmo, brilho no olhar e equilíbrio até na discreta comemoração pela venda realizada, que me fez perguntar-lhe sobre a sua experiência profissional. Quase caí da cadeira, quando ele disse ter um pouco mais de um ano de comércio e pasmem, nunca ter participado de um treinamento de vendas. Disse-me também que antes trabalhava em uma pequena lanchonete de bairro e ao servir um gestor dessa mesma rede de lojas, esse senhor se encantou com o seu desembaraço e simpatia.

Ato contínuo, convidou-o para trabalhar em uma de suas filiais. Mediante a essas informações, não resisti e emendei outra pergunta, questionando-lhe sobre os seus sonhos e ele não foi nem um pouco simplista ao dizer-me que sonha em adquirir um terreno e logo em seguida começar a construir uma bela casa para a sua família.

Essa seria uma resposta normal se esse “pequeno vendedor” não cursasse o 1º ano do ensino médio e não tivesse apenas 16 anos.  Lições de vida e de vendas... 


Edson Massola Jr. é consultor de empresas e professor de gestão empresarial.  
( * ) Autoriza-se a reprodução deste texto desde que sejam mantidos a sua integridade, a menção ao autor e comunicada previamente a sua utilização através do e-mail: edson.massola@yahoo.com.br

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